sexta-feira, 4 de abril de 2014

Notas de uma mesa-redonda...

Há duas semanas, tive o prazer de compartilhar algumas de minhas idéias com professores de francês que participaram do XVe COLLOQUE PÉDAGOGIQUE DE L’ALLIANCE FRANÇAISE DE SÃO PAULO que tinha como eixo principal o tema: “Novos usos da língua, novas formas de ensino”.

Para conversar com os professores organizei meu raciocínio de acordo com essas notas que compartilho, abaixo. Mas atenção... o gênero do texto abaixo é: “notas para mesa redonda” (nem sei se existe esse gênero)... ou seja, não é um texto acadêmico.

  • A comunicação dos alunos, ou melhor das pessoas (já que os alunos também são pessoas), mudou. É só olhar para os lados no transito que as pessoas estão enviando SMSs ou verificando o Whats Up, Facebook, Instagram...
  • Email é coisa mais corporativa, ou como diz meu filho, coisa de velho...
  • Essas pessoas que estão interagindo e se comunicando de formas novas e diferentes, estão em nossas salas de aula
  • Assim, se pensarmos que a aprendizagem é essencialmente social e se dá na interação e através da interação temos um ponto de convergência aí, isto é, as “novas interações” que ocorrem no dia-a-dia, são as interações através das quais nossos alunos estão aprendendo...
  • Em outras palavras, se as pessoas estão usando a tecnologia para se comunicar no mundo e com o mundo, essas tecnologias, de uma forma ou de outra, também aparecerão na sala de aula.
  • E nesse ponto, a reflexão que eu faço é o quanto as salas de aula estão abertas para essas tecnologias?
  • Muito tem se falado em Mobile Learning, mas temos que falar também de “Mobile Teaching". Nesse aspecto, podemos nos perguntar:
    Há resistência nossa em relação a esses devices/aparelhos?
    Quais os motivos dessa resistência?
  • Parece haver um senso comum de que há resistência, e aí me lembro de uma propaganda da Microsoft direcionada para educadores na qual tinha um professor dando um depoimento dizendo que: no início, ela era resistente, mas ouviu um conselho, se abriu e, com o tempo, passou a incorporar outras coisas em sua prática pedagógica, reforçando um estereótipo do professor fechado e reticente ao novo.
  • Mas enfatizo: quais os motivos da resistência? E aí trago um pouco da minha experiência em formação continuada e reflexiva à distância: a resistência é mais frequente quando temos processos atropelados. Quando, por exemplo, colocam computadores ou tablets nas mãos dos professores e simplesmente dizem que esses aparelhos têm que ser usados, muitas vezes por questões de Marketing (os famosos diferenciais de mercado), ou para justificar um investimento feito na compra dos aparelhos.
  • Contudo, se há um planejamento para que os professores possam explorar e aprender com as novidades, se há uma estratégia que permita aos professores conhecerem os equipamentos e descobrir como esses equipamentos podem ajudá-los a se aproximar e dialogar com os alunos, a chance de esses professores passarem a incorporar essas novidades me parece muito maior.
  • Então, nesse processo, podemos ter soluções e dificuldades que são comuns e bem vindas já que são inerentes ao processo de aprendizagem.
  • Tanto essas soluções tecnológicas quanto as dificuldades precisam ser objeto de um olhar crítico que nos permita planejar e usar a tecnologia para fazer diferente.
  • Se formos usar a tecnologia para continuar fazendo a mesma coisa, não há sentido.
  • E aqui trago para o diálogo o pesquisador americano Warschauer (2000) que em suas pesquisas verificou que a tecnologia potencializa as ações, ou seja, se um professor tem uma prática pedagógica interessante, o uso apropriado da tecnologia potencializará essa prática e ela ficará ainda mais interessante. Por outro lado, se um professor tem tradicional, centrada na transmissão pura e simples de conhecimento, essa prática se potencializará e ficará ainda mais tradicional.
  • Outro aspecto tema deste diálogo se refere à proibição de smartphones e tablets na sala de aula.
  • No meu entender, de foma geral, a sala de aula está muito distante do mundo real. O que é solicitado e exigido dos alunos nas escolas, muitas vezes, não têm aplicabilidade e a proibição desses equipamentos em sala de aula pode afastar ainda mais o ambiente pedagógico do mundo.
  • No entanto, não me refiro a qualquer uso. Defendo a idéia de que os professores precisam refletir e planejar o uso consistente dos gadgets.
  • E isso não pode ser algo complicado... pode e precisa ser simples. Por exemplo, em uma aula de línguas na qual os alunos precisam descrever alguém, ao invés de usar a foto que está no livro, porque não usar uma foto que eles têm no seu celular? Isso aproximaria o conteúdo da vida deles. Tornaria a instrução mais significativa, interessante, dinâmica.
  • Na mesma linha, ao ensinar direções, porque não usar o Google Maps? Ou o Waze que muitos de nossos alunos têm em seus celulares?
  • Há vários professores usando QR codes, por exemplo, para atividades de information gap (situações de interação nas quais cada um dos atores têm um papel e desconhece o papel do outro). Inclusive, esses QR codes e os próprios smart phones ajudam alunos com necessidades especiais a participar das aulas.
  • Concluindo, a minha opinião é que, de forma geral, ainda há um caminho muito interessante a ser trilhado pela educação e pela escola na incorporação das novas tecnologias no ofício do professor, no fazer pedagógico. E isso pode ser fantástico. E digo pode ser, por que está em nossas mãos essa possibilidade. Podemos nos afastar, ou assumir um olhar mais passivo, deixando deixar que outros tragam essas novidades para nossas aulas, ou podemos ser protagonistas dessas mudanças e nos apropriarmos dessas novidades. O que vamos fazer? Vamos deixar outros decidirem o que é bom para nossa aula? Ou, dentro de um contexto institucional, vamos interferir nisso? 
  • Paulo Freire dizia que a educação se faz na comunhão, no diálogo e esse diálogo, com o mundo é nossa responsabilidade. Então, que tal um “bate-papo”?
 
QRCode