segunda-feira, 18 de abril de 2016

Eu sou a favor do impeachment...


Andam escrevendo tanto por aí que eu senti a necessidade de me posicionar.

Muitos amigxs que defendem o atual governo e são contra o impedimento da Presidente tem postado uma série de coisas que nem sempre podem ser atribuídas a todos que têm opiniões diferentes. Algumas dessas afirmações seriam até constrangedoras para mim e por isso achei legal escrever esse post.

Primeiro, tendo trabalhado e votado pelo PT por vários anos, desde quase sua fundação até poucos meses depois da primeira eleição do Lula, fico muito indignado. As posições de esquerda, o conceito de justiça social, os princípios éticos e a democracia defendida por mim e por muitos companheiros naquela época estão a anos-luz do que tem sido praticado pelo partido nesses anos de poder.

Isso porque ao invés de implementar e lutar por um plano de governo, um projeto de país, optaram por implementar e trabalhar em prol de um plano de manutenção do poder pelo poder.

Alianças impensáveis na época foram feitas sob a égide da governabilidade. E deu no que deu, na verdade, no que está dando.

É simplista atacar uns e outros hoje, após a votação de 17 de abril, sem se lembrar que até poucos meses e, até dias, estavam sentados na mesma mesa. Tem uma música dos Titãs que reflete bem isso... diz “quem come prego sabe o cu que tem”.

O triste é que ao defender que a presidente seja impedida porque gastou mais do que podia e utilizou de artifícios ilegais para dar conta disso, o que em empresas privadas – com ações em bolsas – que precisam dar conta de seus atos, gera processos e punições previstas no código civil, eu seja colocado no mesmo saco de um monte de gente deplorável.

É triste ver que um cara que exalta um torturador votou na mesma posição que eu tenho. Também é triste de ver o Prestes sendo mencionado por governistas que se apegam ao cargo se esquecendo muitas vezes das motivações da coluna.
É triste ver que ao chegar ao poder, essas pessoas conseguiram fazer com que Marighela, Rubens Paiva, Herzog, Lamarca, entre tantos outros desaparecidos, hoje, sejam vistos como farinha do mesmo saco... do mesmo saco daqueles que sobreviveram, assumiram o país e aparelharam o Estado para que, na base de comissões e propinas, pudessem se manter lá, sem perder a boquinha, sem perder o poder. Enfim, a tristeza vem de vários lados, de várias vozes, de vários sentimentos.

É triste que a presidência da sessão tenha sido conduzida por um deputado como o Cunha, mas é triste lembrar que ele só chegou nessa presidência por conta de interesses do governo que até pouco tempo atrás buscava em todas as alas do PMDB suporte para seus planos de manutenção de poder.

Eu sou contra a ditadura, sou contra corruptos, sou contra tortura, sou contra a ideia de que só quem defende X ou Y é massa de manobra, sou contra a ideia de quem só quem defende posição X ou Y tem a consciência, sou contra a força, som contra conchavo, sou contra o que a esquerda fez e deixou que fizessem com ela, a esquerda.

Em conversas tenho dito que um dos piores feitos do PT é ter se tornado símbolo de pensamento de esquerda. Não é. O PT pelo qual trabalhei era. O PT resignificado não.

Ainda tem gente boa lá? Já não sei. Acho que sim, mas não tenho certeza.

Aliás certeza eu tenho uma... o que acontece hoje (a força que um tipo da pior espécie como o Bolsonaro tem, o protagonismo frio que um Cunha alcançou, a cara de pau com que os homofóbicos, preconceituosos, reacionários e enrustidos bradam) não está aí por acaso. Quando você deita com alguém tem que saber que isso tem um preço... preço alto que todos nós estamos pagando.

O problema não é só a Dilma. Concordo... mas passa por ela. Aliás, defender que o problema está aqui ou ali seria simples demais. Dilma está pagando o preço por ter se sujeitado a ser o que não estava preparada para ser. Foi posta na Presidência por um partido e, provavelmente, será usada como forma de se afastar um pouco esse partido do poder.

O que espero é que as pessoas que foram às ruas para derrubá-la não saiam das ruas. Temos muito mais gente para derrubar. Tem muito mais gente para ser presa. Tem muitas máscaras (de pessoas de vários partidos) que precisam cair. Tem muito mais que precisamos aprender. As eleições de outubro são uma excelente oportunidade para que a gente possa mostrar que aprendeu algo com o voto.

Que o nosso voto seja a cuspida na cara de gente oportunista que não está nem aí para o nosso país.

Ontem foi um dia em que não poderia haver vitória... independentemente do resultado perdemos. Poderíamos ter perdido mais, na minha opinião, mas ainda assim, perdemos.

Espero que a gente possa ganhar em um futuro próximo.